quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Para além dos batuques, a letra



Sobre a música "Banditismo por uma questão de classe"
(Chico Science)



Há algum tempo atrás parei para perceber as letras de Chico Science. Confesso que, antes disso, eu me deixava levar por um surto dionisíaco ao ouvir as músicas e, ao ritmo da batucada, eu era completamente conduzido pelo som.
A mensagem sempre passou por mim, até mesmo quando eu a cantava, sem que eu a percebesse. Mas, um dia, mais calmo e interessado, pude pensar Chico Science, além de o sentir.
As letras das músicas, assim como o próprio movimento manguebeat, são perfeitas insinuações das críticas possíveis sobre o sistema de exclusões, além das estruturas socioculturais e as estâncias nas quais essas estruturas são formatadas. Misturando rap com maracatu e outros ritmos brasileiros, o movimento não procurava somente uma identidade para a cultura dentro do contexto nacional, mas procurava dar voz à periferia nordestina de maneira mais direta, portanto, as letras caminham nessa direção, a direção do confronto com os paradigmas e preconceitos culturais existentes.
Das letras que parei para pereceber “Banditismo por uma questão de classe” me chama a atenção pela amplitude dos seus conteúdos, que não ficam, somente, no tabefe da superfície de suas frases jogadas, mas nos faz pensar no além, nos limites entre herói e bandido, o que faz o bandido ser bandido e que culpa nós temos nessa história.
Resolvi, então, escrever, para que eu mesmo não me esqueça das coisas que pensei ao reler e reouvir a musica centenas de vezes apos ter ouvido a primeira vez. Compartilho, então, as minhas visões sobre esses temas, para, quem sabe, encontrar algum eco no próprio sistema.



“... Há um tempo atrás se falava de bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução

Há um tempo atrás se falava e progresso

Há um tempo atrás que eu via televisão...”
O passado reflete o presente de forma concreta nessa passagem da música de Science. É perceptível que essa estrofe indica que as noções de solução presenciadas e equalizadas no presente se esgotaram, pois o princípio (enquanto passado) já estava condenado por si mesmo ao fracasso. Já que, mesmo que se fale sobre tudo, a atividade dos sujeitos permanece nula e distraída pela “cultura de massa”. O paralelismo sugerido pela repetição da frase “Há um tempo atrás” indica que os finais das frases fincam como estacas o presente contundente e contraditório, e a falha do discurso entre o que se fala e o que se vê e faz, se sustenta de maneira franca e direta na inércia inocente do próprio “eu”, posto que na última frase da estrofe a televisão, veículo de massa tantas vezes abordado e criticado por teóricos como Adorno e Walter Benjamin, assume o seu papel de gerador de ilusões de conforto e alienações: enquanto se fala dos “problemas”, das soluções, e do caminho da correção (progresso), os milhares de “eus” veem televisão e sossegam.



“... Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda

Biu do olho verde fazia sexo, fazia

Fazia sexo com seu alicate...”.
A primeira vista parece que se trata, nesse trecho, de uma espécie de aleatoriedades insignificantes que indicariam os conteúdos rasos do veículo televisivo, que, por sua vez, expõe preocupações tolas e apelos sensíveis e sexuais presas ao medo e ao desejo carnal próprio do humano. Pesquisando não é exatamente isso, mas continua sendo, sim, uma crítica do modelo televisivo que cria moldes de bandidos e mocinhos, que muitas vezes se misturam de maneira quase “osmózica” e por isso são acusados justa e injustamente – difícil acertar – de propagar algum tipo de lei de status de poder que torna essa caminho um caminho não só possível como brilhante. Pois Biu do olho verde e Galeguinho do Coque, eram bandidos famosos no nordeste e que tinham todo um aparato de construção de imagem midiática e um apelo sensacionalista em volta de sua aura.
“Biu do Olho Verde, um jovem de 17 anos, nascido nos Bultrins, periferia de Olinda, além de assaltante era torturador, gostava de submeter suas vítimas – na grande maioria, mulheres – a torturas que deixariam os roteiristas de “Jogos Mortais” no chinelo. Uma das histórias que contam sobre ele diz que, depois de assaltar uma mulher ele perguntou: “quer levar um tiro ou um beliscão?”Logicamente, aterrorizada pela possibilidade de ser baleada, a mulher optou por um beliscão. Ele, então, sacou de um alicate e arrancou os mamilos dos dois seios da mulher, que ficou agonizando de dor. O radialista Jota Ferreira, que fazia muito sucesso na época com um programa no rádio e na tevê chamado “Blitz, Ação Policial”, declarou ter-se encontrado com Biu do Olho Verde e que o mesmo desmentira todas as histórias envolvendo torturas com alicate. Em seu blog, Jota publicou uma declaração, atribuída ao bandido, que teria sido dada num encontro que os dois tiveram na década de 80:

“Jota, eu não sou 'fulêro'. Sou macho e esses cabras da Polícia são tudo maricas, 'tendeu'?...Num adianta, 'véi', tu ficar me xeretando porque tu não vai 'arrumá' nada, sacou? Num sei nem que danado é um alicate de unha, porra..! Nunca ameacei ninguém de beliscar os peitos se não me der dinheiro, 'tendeu'? Agora, já mandei uns cinco pro inferno, tá ligado?. Eu gosto de dinheiro e 'mulé'... e tem que ser boa, visse? 'Mulé' merda eu nem paro..! Pergunta às 'mulé' se eu maltratei alguma delas..!”.” (Jorlia do Ed).

É inegável que se construiu uma forma-enredo que se incorporou a histórias de herói, mas que, com artimanha, o herói não precisa mais ser necessariamente bom, ético e honesto. Os padrões sociais, sendo rompidos, para uma sociedade autoritária e bruta, já faz com que se reconheça o valor desse herói “avessado”. Mas não discutiremos a necessidade de se criar padrões de heróis que rompam com a questão ética, ou que se aproximem de um “humano, demasiado humano”, portanto falho, portanto comum. A questão da música é que a forma com que a TV e outros veículos de mídia monta seus “bandidos-heróis” se adéqua a demanda por ícones que a comunidade já possui, e nisso se valem.
“Galeguinho do Coque”, que nasceu “Everaldo Belo da Silva”, começou a praticar pequenos furtos ainda adolescente. Assim como Biu, ele era diferente do esterótipo dos meninos de rua incutido na mente de quase todo mundo: menino negro ou mulato. Como o próprio apelido denunciava, ele era galego e muito “paquerado” pelas meninas. O que tornou o Galeguinho do Coque famoso foram as suas espetaculares fugas. Ele assaltava e fugia para o Coque, ninguém o encontrava. Em 1971, entretanto, ele foi preso e condenado. Na cadeia, converteu-se à religião evangélica e abandonou o crime. Apareceu na tevê várias vezes falando de Deus e maldizendo sua pregressa vida de crimes. Everaldo Belo mudou para o bairro Alto do Jordão, na periferia do Recife, onde abriu um pequeno comércio.
Muitos não acreditavam na regeneração de Galeguinho do Coque. Alegavam que ele usava a religião como disfarce. Alguns anos depois, foi encontrado morto num terreno baldio na cidade de Moreno. Ao lado do corpo, uma bíblia com as páginas centrais cortadas, escondia um revólver calibre 38. Várias versões foram cogitadas na época. Houve quem dissesse que a cena foi armada para justificar a execução dele. O fato é que a saga desse meliante virou lenda e mora no imaginário de muita gente que viveu nessa época”.” (Jornália do Ed).

É preciso caminhar mais atento nessa história, que surpreende a brincadeira, de policia e ladrão, as questões que limitam esses seres socialmente e, principalmente, os motivos, que muitas vezes somos culpados pela conivência cultural que se sustenta nela mesma, que fazem com que esses entes sociais permaneçam de certa forma no imaginário, e de outras formas na realidade.



“... Oi sobe morro, ladeira córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela...” ·.
            Somos expostos a ver, que o ciclo é único e o herói se confunde com o bandido também porque enquanto este persegue aquele, aquele anula o poder deste, pois ambos compactuam e coadunam numa mesma direção. Essa corrida maluca que, a primeira vista, se assemelha a caça do cão ao gato na verdade não expõe a verdade dessa relação, onde a lógica de um sustenta a lógica do outro.



“Acontece hoje e acontecia no sertão
quando um bando de macaco perseguia Lampião

E o que ele falava muitos hoje ainda falam

"Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala!".”
            A relação, quase óbvia, do banditismo nordestino com o cangaço, fato histórico que, de certa forma, influencia a noção de banditismo a nível nacional, posto que principie a série de distorções entre herói e bandido se sustenta “inconscientemente” nos dias de hoje. A cultura pautada numa ficção feita a partir da realidade expõe uma opinião, uma tendência e um lado da figura, deixando de lado sua, sempre presente, outra faceta. Essa foi a primeira tarefa da TV e do rádio jornalístico, nos seus primórdios, criar ícones, ainda que desviados, de rebeldia contra a estrutura punitiva primitiva. Claro que o erro sócio-estrutural não é o banditismo, não seria isso, longe de ser, que eu quero expor, mas, sim, o uso dessa imagem pela TV. É o que me surge ao ler a estrofe que indico. Falar contra esse processo de resposta social às exclusões sem me aprofundar nas questões da exploração seria tolo e breve da minha parte e, assim, não pretendo ser.
Fugindo um pouco da cultura nacional para falar em cultura universal, temos um ícone da ficção, e esse somente um herói ficcional, que responsabilidade nenhuma tem com a verdade dos fatos, que é o Robin Hood: herói que saqueia os ricos para dar aos pobres. Como a ficção e a literatura não são capazes de expressar as contingências do fato, mas somente nos dão a pensar alguns pormenores dos contextos, o que sobre é a abertura de uma brecha de heroísmo social que tem o seu limite no roubo comum, apesar de compreender, sem, contudo, confirmar, a noção de Proudhon que propriedade é um roubo. Ronbin Hood é um herói social, por que os ricos da história são os bandidos sociais. Dessa forma o paralelo com a realidade é verossímil, mas pode, vez por outra, resvalar em injustiças.
Nossa sociedade é capitalista, sistema que presume um ser explorador, um ser explorado, exclusões grosseiras e camadas de miséria sustentando a abonança dos ricos. Será, então que, em se pensando nesse caráter imanente do capitalismo, podemos cogitar seres bons e maus? Ou só podemos cogitar conivências comportamentais e ações? A mudança estrutural do sistema seria muito mais coerente do que nomeações injustas, pois estas não fazem sentido dentro desse sistema quase "contratual" ou consensual. Quem é o herói social? É aquele que abre o caminho para o monstro moral? Quem é o bandido social, aquele que se sustenta na ignorância dos seres explorados? Os limites são complicados e é isso que a música como um todo me faz pensar.



“Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente

E quem era inocente hoje já virou bandido

Pra poder comer um pedaço de pão todo fudido”.
Nessa estrofe eu, o meu olhar, sou exposto ao alicerce capitalista, onde se delimitando o bandido como aquele ser explorado, excluído que pratica a ação de roubar, matar, romper com os códigos de conduta, cria-se a barbárie do miserável. A expectativa quase nula das suas próprias vontades, implica na razão da pequeneza, essa mesma razão, exposta pela mídia, usada pela política e assegurada pelos exploradores. O pobre rompe o código, para matar a fome de maneira pobre, mas não é só um desmerecer do crime miserável, como se o crime do colarinho branco fosse mais digno, mas, sim, mostrar que esse ser, que ora ou outra é usado como ícone midiático, para sustentar o status de poder marginal, interessantes aos ricos, é, naverdade, um núcleo de alienações, que não deixa passar nem mesmo o conhecimento perfeito de suas próprias ações.


 “Banditismo por pura maldade”
“Banditismo por necessidade”
“Banditismo por uma questão de classe.”.

A noção de maldade, de pura maldade, é que complica nesse final de letra, pois há maldade, sim, aqui ali e acolá, de forma que parece que a maldade é sistemática, o sistema capitalista inclui ainda esse dissabor. A existência de castas sociais desprezadas é pura maldade; um ser humano ser levado, quase exclusivamente, ao crime, previsto no código, é pura maldade; o sistema que faz com que nos odiemos constantemente e sejamos preconceituosos é pura maldade; a violência psicológica e física do crime, é pura, também, maldade. Só que podemos tentar separar, devido ao grau de consciência dos atos, inseridos, pelos seus atores, o que tornaria mais significativa a critica de Science, pois a "necessidade", exposta na segunda frase, faz com que os atores ajam de maneira, comumente, mais desesperada e menos pensada, ou mesmo de maneira resignada do tipo: “não tenho nada a perder, minha vida é uma merda e eu não tenho outra escapatória”. Portanto, a pura maldade estaria diretamente atrelada ao esclarecimento, a falta de necessidade, enquanto as outras manifestações violentas teriam mais a ver com um tipo de maldade reflexiva.

Já a questão de classe, no que entendo, é tudo isso, é exatamente o banditismo presumido e inato ao sistema capitalista, que separa em classes (beneficiadas e marginais), o bandido que todos somos em alguma estância, já que o capital nos induz a tais e tais comportamentos e o bandido que somos culpados de existir, já que não exigimos a desconstrução (perceba que eu não disse destruição) do capitalismo como se encontra.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Para além do racismo, o egoísmo

                                          http://www.youtube.com/watch?v=WNM4txmV0Lc


Muita coisa a se analisar quando percebemos a quantidade de compartilhamentos do vídeo onde o ator norte-americano Morgan Freeman dá a sua opinião sobre o dia da consciência negra. Tanta coisa a se pensar, coisas que estão sendo deixadas de lado por quem põe esse vídeo em seu mural.
Existe uma forte, porém rasa, ideia que indica que, ao se fortalecer os grupos e as lutas dos "ditos" minorias se dá justamente o estabelecimento e o consentimento do preconceito que eles sofrem cotidianamente. Isso é uma falácia que em nada se justifica.
Não é necessário ser um antropólogo com anos de leitura e pesquisa para se perceber que o preconceito, o racismo, e os frutos da ignorância do homem como um todo, já estão estabelecidos culturalmente em virtude de construções e conjunturas sociais de exploração, ou seja, não necessitam de nada para existirem, pois já chicoteiam o lombo do povo. E, ao contrario do que pensa o homem mediano, é exatamente nesse reforçar das mesmas conjunturas dos preconceitos que faz com que uma história não se acabe e o explorado não se cale, em claras palavras, desse retomar das questões criticas que surge a luta. É claro que só o dia da consciência negra não é a solução para nada disso, claro que existem ignorâncias ainda não suplantadas inclusive nos movimentos que buscam romper com as estruturas preconceituosas. Mas não é possível que neguemos que dizer “Por que um dia da consciência negra se não há um da consciência branca?” ou ainda “para acabar com o preconceito basta que não falemos mais nisso, não me trate como negro que eu não te tratarei como branco e estaremos quites!” sejam pensamentos, se é que podemos assim chamar, inocentes e inconsequentes, no mínimo.

Parece-me realmente muito pequeno e mesquinho esse pensar, mas vamos analisar mais a fundo essas duas frases-argumentos tão típicos dos nossos queridos pequenos-burgueses-pardos-desorientados, ou seja, os ignorantes da exploração social e das espoliações raciais (e que, assim, parecem querer permanecer) .

Por que um dia da consciência negra se não há um da consciência branca?
Porque só se tem de reforçar a luta e a força daquele que é oprimido; que tem sua cultura  subjugada; que sofre historicamente e desde o nascimento com uma série de obstáculos que lhe são impostos pela sociedade única e exclusivamente pelo tom de sua pele, pela região da qual ele provem, pela sexualidade, pela religião e assim por diante.
O discurso hetero-caucasiano-macho não é plausível, pois com ele se pretende anular as questões basais da nossa sociedade estratificada e explorativa. Porém é perceptível que pessoas com algum esclarecimento também corroboram para esse tipo de pensar, aquelas mesmas que, como eu já disse, acham que o racismo tem que acabar, mas tem que acabar no silêncio das questões, e não na luta pelos direitos. O que, na minha opinião, é querer velar ainda mais a nossa, já tão opaca, história podre.
Alguém seria capaz de dizer que para se acabar com o ranço social da ditadura basta que não falarmos mais nisso? Ou que para minimizar as dores do nazismo e para que esse tipo de ignorância não ocorra mais basta que nos calemos? Ou ainda, que sanaríamos, de uma vez por todas, a nossa dor universal pelas destruições da santa inquisição, somente nos calando?
Acho difícil, portanto não calemos a luta das minorias e não demos força para o discurso burro-fascista da camada privilegiada e que, mesmo com a formação e a informação facilitada, prefere ignorar.

Para acabar com o preconceito basta que não falemos mais nisso, não me trate como negro que eu não te tratarei como branco e estaremos quites!
Essa questão circunda a outra que levantei anteriormente. Parece-me claro que não basta a gente fingir que não percebe as diferenças, elas existem factualmente impostas e se estruturam na nossa cultura de tal forma que quase nem percebemos mais quando estamos, ou não, sendo racistas, machistas, ou qualquer “ista” do tipo. Por isso penso que muita gente está se deixando possuir por “istas” quando publicam esse vídeo, mesmo sabendo que essas mesmas pessoas, muitas das vezes, só estão querendo demonstrar que não gostam de racismo, que o mundo não precisa disso e que a vida devia ser igualitária e melhor para todos. Ok, mas não podemos, com as ideologias, anular as lutas que temos que travar diariamente para que os direitos sejam iguais e, ao fazermos isso, chegamos ao “ista” mais deplorável que existe. Ao fazermos isso, ao anularmos a luta em virtude de uma felicidade cor de rosa, de um mundo de uma só cor: a cor humana, somos egoístas.
E nada é mais egoísta do que achar que o nosso sonho tem que ser real para todos, que nossos ideais tem que ser alcançados pelo o mundo. E que a luta e o embate cultural não vale tanto a pena quanto o silêncio do fingir que não se vê o que se sente. Morgan Freeman é, nesse caso, um símbolo do egoísmo mais puro, pois é, no momento em que se pronuncia, aquele que se esquece da dor dos seus antepassados; da dificuldades que enfrentou por ter como identidade estigmatizada a própria cor; das crianças ao redor do mundo que vão ter as mesmas dificuldades ou até maiores do que as dele... Quando eu digo dificuldade eu não estou dizendo incapacidade intelectual, que isso fique bem claro, pois é justamente por essa extrema capacidade intelectual que, apesar das circunstâncias contrárias, temos grandes e belíssimos exemplos de pessoas bem sucedidas socialmente que são a "exceção da regra", o que, claro, não garante a elas, diretamente uma felicidade ou uma perfeição em todas as suas atitudes (somos humanos - eternos ignorantes de alguma coisa). O próprio Morgan Freeman é um caso exemplar, um ícone excelente da exceção, apesar de a análise da situação negra no EUA e no Brasil partir de diferentes pontos de exploração e luta. É exatamente o caso de alguém que construiu o seu sonho na realidade, carreira de sucesso, fama, dinheiro, status social... Mas nem por isso, nesse assunto ao menos, deixou de ser ignorante e egoísta.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sobre adaptações e outras questões estéticas


Vivemos o afastamento contínuo das questões originárias das obras de arte como um todo. Conhecemos as obras de grandes pintores através de figuras, sites e blogs espalhados pelo mundo da “cibercultura” (Pierre Levy – Cibercultura), ouvimos os sons do mundo que ainda podemos baixar nos nossos computadores, lemos os seus escritos traduzidos, revisados, adaptados..., sem nos darmos conta de que nos acomodamos completamente com esse “des-conhecer” das verdadeiras das obras.
Conhecer a verdadeira obra é, nesse caso, ter um contato próximo, dialético e constitutivo com o autor através de sua arte. E essa aproximação de olhares só é possível, a meu ver, no contato direto com a obra em seu estado mais primeiro.
          Em se tratando da “era da reprodutibilidade técnica”, como indicou Walter Benjamin, as obras de artes estão, de maneira quase comum, sendo dissolvidas pelos meios através dos quais elas sobrevivem. Hoje em dia os meios de produção da cultura, em algumas esferas artísticas, precedem as formas artísticas e as suplantam, não fazendo sentido a busca pelo estabelecimento do contato único e exclusivo.
Percebemos esse afastamento com mais nitidez quando nos deparamos com estas questões no cinema, parte alvo da critica benjaminiana, pois nele vemos a dissipação dessa questão como cerne e razão de sua existência, uma vez que o meio como se propaga, e a função de se propagar a sétima arte, é mais importante do que o link que a obra de arte original cria entre autor e “uso-fruidor”. Ainda que alguma coisa da sua essência resista nas cópias espalhadas pelo mundo, a origem deixa de ser questão.
(Digo “uso-fruidor”, por acreditar que “fruidor”, quando o assunto é artes, é uma palavra que denota muita passividade, ao passo que explorar o “caráter de utensílio da obra de arte” (Heidegger – A origem da obra de arte) na denominação do esteta, me parece mais honesto com a força “intelecto-criativa” imprimida por quem entra em contato com uma arte).

O cinema foi criado para atingir de maneira mais abrangente a maioria das pessoas, ou mesmo uma maior quantidade de pessoas dispostas. Por muitos anos o cinema foi considerado uma arte menor, justamente por essa perda de contato e por criar uma forma de arte única e exclusiva não ao vivo, o que resulta na perda do contato com o autor e seus atores e que no fim das contas significa que a obra original se perderia com o tempo.
E o tempo chegou tornando a propagação, que era difícil nos primeiros rolos de filmes, fácil com arquivos de computadores. Assim, ressaltando o fim da obra original, da matriz. Mas o assunto do cinema me parece mais cercado, confirmando-se e afirmando-se sua existência nesses exatos termos. Mudemos então para as artes plásticas.
Num catálogo de artes plásticas, por exemplo, a forma de publicar e expor a obra original dos pintores nos induz – veladamente, diretamente, ou mesmo despretensiosamente – a querer conhecer a obra em si, nos aproximando do autor, travando um dialogo com ele através do contato com a sua obra original, que exibe seu traço, sua maneira e sua identidade, de certa forma. É possível estender esse assunto e dizer que no caso de uma obra de arte arquitetônica, por exemplo, só faz verdadeiramente sentido e só cria esse dialogo verdadeiro entre uso-fruidor e autor, quando exposta no local onde ela foi feita, mas deixemos de casos e vamos ao que viemos.



            As adaptações de livros

Em se tratando de arte literária a coisa se complica ainda mais. Pois não só o meio editorial dissolve a origem, a obra matiz, como a tendência das adaptações cria um rompimento completo com o dialogo com o autor, passa a haver uma monitoração e uma mediação que nos acomoda no nosso próprio saber.

Estava eu, semana passada, em um debate onde se afirmava o valor das adaptações de textos literários, porém a quantidade de pessoas concordadas no debate e a possível guerra que iniciaria a minha opinião me fizeram calar essa questão. De certa forma esse constrangimento, de coração acelerado, que sofri durante meia hora, por ter de me controlar, me fez bem, pois pude organizar algumas ideias para compartilhar de uma maneira mais pacifica e sucinta.
Uma questão me assombrou durante o debate, pois fui pego pelo calcanhar, como um Achiles. Vamos cronologicamente situar a questão numa situação hipotética, como uma historinha grosseira para eu exemplificar a minha questão:
Um autor escreveu na década de trinta um livro, revisado e editado a altura do “acontecimento poético” (Manuel Antonio de Castro – Acontecer poético), o que já daria margem às criticas da interferência na obra, mas que durante a década de quarenta se tornou conhecido, celebre e lido com maior frequência.
Nos anos dois mil, a demanda por reedição desse livro se estende e as editoras percebem que precisam adaptá-lo ao tempo do agora, pois sua linguagem já não é mais tão usual; outra editora resolve adaptá-lo para crianças e pressupondo que elas são seres alienados transforma os temas cruciais expostos na obra do autor em coisas mais lúdicas; outra ainda, acha que o livro é muito extenso e o reduz de 500 páginas a 60 páginas com ilustrações.
Parece claro que as adaptações interferem no texto original de uma forma fatal e grosseira, atendendo a demandas extra-arte: demandas de mercado, demandas editoriais e tantas demandas mais que não privilegiam por si só a permanência do livro original, porém o que mais me deixa encucado é que estamos, dessa forma, pautados no nosso conhecimento presente de mundo, de linguagem e questões, pois as adaptações somente usam como argumento a necessidade de aproximar o leitor da obra literária, mas o debate de épocas, conceitos e contextos históricos se esvai; a função dialética da obra se perde e o dialogo de contexto se anula.
Nós nos acomodamos com as adaptações, pois acreditamos estar em contato com a obra em si, quando nem vislumbramos essa distinção, quando somos ludibriados pelo resumo, revisão e edição. Os textos começam a ser facilitados em sua leitura, mas era a dificuldade do trato linguístico e dos temas propostos em “Os irmãos Karamazov”, que o significava.
Meu calcanhar foi atingido por nunca haver percebido que me afasto, me acomodo e me ludibrio com um contato mediado das obras matrizes em função das traduções dos livros estrangeiros, e cabe aí uma crítica semelhante a das adaptações, mas, como não domino uma outra língua que não a minha própria, seleciono essa “anulação” artística como saudável ao meu conhecimento, ainda que vago e intermediado, e as outras (adaptações e afins) julgo como afrontas à minha busca pela uso-fruição honesta e construtiva, mas acredito que a interferência do tradutor é menor e mais fiel a obra do que as adaptações.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Radicais Livres


Os momentos políticos se sobrepõem aos montes e é cada dia mais inviável uma dissociação de um discurso comum, ignorante e alienado que seja, de uma plataforma partidária. Isso exemplifica o quanto estamos sujeitos, enquanto despreocupados e despreparados, às normas das tendências cristalizadas e não-dialéticas dos partidos.
A cultura partidária no Brasil é cega, surda e muda e, com isso, atravanca o caminho da democracia sustentável (já que este termo está na moda) e real. Os partidos, há muito fechados em suas ideologias, não dialogam, e não têm a abertura necessária para a desconstrução e reconstrução, entre si e com o povo. Acabamos, por assim dizer, vivendo numa guerra fria contemporânea entre os ideais de esquerda e de direita. Somos o povo entre a justiça social e o progresso nacional.
É claro que se propõe que o progresso traga a justiça social à reboque, assim como é claro que, hoje em dia, a esquerda assuma uma postura social progressista, onde a justiça social fomentaria o progresso. Há erros homéricos em ambas as posturas, pois a esquerda, ao menos a brasileira, luta para entrar no poder e a direita luta para se sustentar no poder. E o problema é exatamente a base desse poder.
O poder político é sistemático, o que significa dizer que existe uma máquina, com engrenagens, botões, alavancas, arruelas e todo um maquinário complexo que faz com que o robô da social-democracia progressista ande. Contudo a autonomia do robô não é discutida.
Vejamos! Por que, hoje em dia, excetuando-se os guetos ideológicos marxistas, que jogam o jogo político, praticamente fadados a perder, a esquerda se moldou ao sistema a ponto de nem sequer pode ser mais, com tanta convicção, chamada de “esquerda”? Porque o maquinário do robô faz com que ele continue andando, num caminho já predeterminado, por força de outras engrenagens que não são político-ideológicas. O progresso e o caminho da máquina são determinados pela economia, ou seja, o Estado não tem autonomia, não há substancial mudança interna, ao se mudar os candidatos eleitos, ou os partidos eleitos. Todos tocam lendo a partitura do maestro econômico. E ainda é preciso salientar que só vai chegar ao poder aquele partido de “esquerda” que tiver suavizado as suas ambições (por isso o carma dos marxistas), por determinações mercadológicas e econômicas. Porque o PT não foi um governo tão diferente assim, apesar de existir argumentos que me tentam impedir de dizer isso, do governo PSDB? Pois a máquina anda independente do partido. Anos bons e “gastadeiros” e anos maus de austeridades, nada está nas mãos dos representantes, pois o ciclo do mercado financeiro nos dá alma.
Portanto a melhor dicotomia para atualidade é, a propaganda do poder e do progresso versus a consciência do caos e dos desequilíbrio. Nesse ponto os guetos marxistas perdem ainda mais poder de avanço, pois a propaganda do caos não é tão atrativa quanto à propaganda situacionista da esperança e da mudança, pois o povo é, desde os primórdios alienado pelo trabalho, pelo consumo..., logo, vale dizer que a propaganda de que o progresso do asfalto, da TV a cabo, da possibilidade financeira por perto (o que é tratado como um mérito governista e deveria ser tratado como o cumprimento da obrigação) são muito mais bem aceitas do que a explanação do caos e das desigualdades pela maioria da população. Não quero dizer, com isso que o erro está na cartada da esquerda, mas sim no jogo que é jogado.
No jogo político que ai está é preciso ser mais sonso do que sincero, pois o povo não quer temer o que vem, mas quer acreditar. Com isso, a meu ver, propostas de mudanças no carnaval do Rio, como a exposta pelo candidato Marcelo Freixo, devem ser efetuadas, mas não necessariamente usadas em campanha, pois para a propaganda é um tiro que sai pela culatra, pois se trata de uma coisa popular enraizada na cultura e que se deixou levar cegamente às doutrinas submissas das premissas mercadológicas. Mas é preciso frisar a “cegueira”, pois quem está lá no barracão não sabe e não quer nem saber de mudança e de nada adianta dar depois explicações abalizadas, pois quem está lá no barracão ganha o seu dinheiro, tem a ilusão de mudança de vida e teme por não ter mais o seu sustento. À grosso modo, o povo teme não poder mais ter TV, ter carro, ter dinheiro, ter.

É preciso que fique claro que vivemos em um caos, mas é preciso que todos coloquem os óculos de enxergar miséria, já que estamos tão automatizados e inseridos. Quando pusermos todos esses óculos perceberemos a incapacidade da nossa democracia, do nosso sistema político, dos nossos partidos e do nosso Estado. Perceberemos então que o caminho é outro, que não o de escolher uma tendência e se fechar num abismo de ilusões. E nesse meio de radicais (gueto-esquerda/esquerda-neoliberal/direita) nascerá outra frente de radicais, utilizando-me da nomenclatura e das definições químicas para nomear esse movimento político, os “Radicais Livres”.

Claro que eu poderia me embasar nas definições (pois existem várias) para as palavras “radical” e “livre”, mas apesar de ter sido uma matéria dos meus horrores na escola, acho que as definições químicas se aproximam mais do que penso e definem as duas palavras de uma vez.



      1)         Radicais livres são espécies que apresentam elétrons desemparelhados. Os radicais livres possuem elétrons de valência desemparelhados, e, portanto, são altamente reativos, podendo inclusive reagir entre si em uma dimerização para formar uma molécula com todos os elétrons emparelhados.”.

       Radical é aquele que toma pela raiz um ideal, nesse contexto, e se apega a ele, negando a possibilidade de outro pensamento, pois qualquer outro partiria de uma ilusão. O Radical Livre é aquele, como o exposto na definição química acima, que possue o descontrole necessário para se ser reativo, capaz de reagir inclusive internamente com seus conceitos a ponto de transformar em total descontrole os processos automatizados do seu ser.

 2)       “Os radicais livres podem danificar células sadias do nosso corpo, entretanto, o nosso organismo possui enzimas protetoras que reparam 99% dos danos causados pela oxidação, ou seja, nosso organismo consegue controlar o nível desses radicais produzidos através de nosso metabolismo.”.
    É preciso esclarecer que é justamente naquelas esferas mais sadias da sociedade que se encontram incubados os vírus mais potentes. Portanto, a saúde é uma ilusão, assim, os radicais livres danificam o sistema que nos ilude com a sua aparência saudável. A proteção do organismo é a repressão da manifestação popular, que á existe e permanecerá até a derrocada final com mais autoritarismos.
      Nada disso é necessariamente certo, pois é só uma vidência e uma premonição de quem nunca acreditou nessas místicas. Mas se essa possibilidade existe, e ela existe, é bom que atentamo-nos e atentemos uns aos outros, pois a liberdade partidária (não aquela do "não quero saber disso") é a chave para a discussão dos problemas da sociedade, porque a fidelidade partidária só vale para os não eleitos e ilude quem procura um "ideologia para viver", como Cazuza cantou. 
 Esse joguete com entre química e política, é, claro uma brincadeira, e uma suposição fundamentada na minha esperança de mudança, aonde a conscientização da maioria viria em primeiro lugar, onde a construção do homem político seria a primeira etapa para a reconstrução, incluindo a demolição dos pilares, da nossa democracia. E nada desses termos e definições se deve a algum pensador, filósofo, sociólogo, ou o que seja..., esses devaneios me pertencem, essas tolices me configuram. A minha esperança é a minha “liberdade”, sem que precisemos nos aprofundar nos conceitos filosóficos desses “nomes-tramóias” que criamos e não vamos saber explicar nunca.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Perda de tempo


Quanto se perde parando para pensar? Uns dez minutos de raro desgaste intelectual, que equivalem a um segundo de stress corporal cotidiano, e isento de reclamações e satisfações a serem dadas. O pensar sobre exatamente esse assunto (exploração do trabalho) que, por estar diretamente atrelado ao pensamento marxista de exploração capital, e às suas corriqueiras interpretações corruptas, já é tomado preconceituosamente como uma perda de tempo chata e sem sentido algum, de que vale? O que fazer quando o homem passa a achar desnecessário e sem função o "pensar mais" sobre um assunto tão vívido e vivido?
As pessoas continuam sendo exploradas por sistemas que as anulam e o desgaste corporal e emocional que resulta de seus esforços laborais as fazem desejar a distração mais breve, ou melhor, as interações superficiais, a satisfação simples e a fruição distráctil como compensação a essa ruína.
Não precisamos dizer aqui que a lógica do sistema prevê todas as anulações sofridas pelo homem, pois o mesmo trabalha para sustentar suas necessidades, é compelido pelo mercado e pela propaganda a consumir “des-necessidades” e, com isso, a trabalhar desesperadamente para sustentar os seus "não-sentidos" pós-modernos (que, na maioria das vezes, chamamos de produtos), pois os sistemas só perduram por força dessa logística alienante. Cabe desde já dizer que o mercado/economia é quem coordena ideologicamente o mundo e que coisas concernentes à cultura, política e outras tantas esferas, hoje em dia, nada mais são do que simples produtos com valores estipulados pelo mercado de consumo. Hoje se pode comprar tudo!
A escravidão e a exploração evidente do trabalho se transformou em uma doutrina de ambições do mercado, que fazem do pouco tempo conseguido pelo homem, para o zelo de si, um tempo de contas, preocupações, recomendações e rememorações de problemas do trabalho, medicações paliativas e distrações alienantes, ou seja, de ruminações do esforço de ser nessa sociedade pautada no poder capital, que iludem a transformam a sensação de bem estar em "simples estar" acomodado.
O cru capitalismo assumiu, hoje em dia, microformas que se entrelaçam como o mercado, a propaganda, a moda, o consumo, o trabalho, a economia, a indústria..., mas a lógica explorativa do capitalismo destrinchado por Marx ainda é a mesma e está presente em todas as etapas dessas microformas. A exploração do trabalho, que antes era grossa, rústica e mal acabada, como uma pedra bruta de diamante, hoje é lapidada e possui muitos detalhes, por vezes opacos e de difícil compreensão, mas sempre visíveis a olhos atentos e que desejem entender. Acontece que o problema encontrado por Marx, numa época inicial de revoluções industrio-culturais, onde as coisas eram separadas mais facilmente, se diluiu e se misturou com crescimento do mercado e da economia e se transformou em uma exploração mais ideológica do que corporal. O homem explorado pelo mercado, hoje tanto quanto pelo trabalho, não acredita em tempo para si, não vê com bons olhos o ócio, ainda que (e é sempre) produtivo, portanto destina a atividade e a produtividade artístico-filosófica um patamar medíocre e vadio, assim, não entende e ignora a critica mais profunda do mundo e de si e vê elementos que criam noção de pertencimento e identidade como cultura, leitura, artes em geral ou como supérfluas ou só entende aquele tipo de satisfação rasa e cômoda sustentada pela cultura de massa, cultura feita para sossegar o homem massificado, para criar ilusão de bem estar no homem explorado, para iludir o saber do homem ignorante.
O "homem-massa" acredita que música “erudita”, leitura crítica de livros não-Best Sellers, fruição de vídeo não-block busters..., não seriam distrações, lazer, não fariam parte de um tempo de si, mas sim, seriam mais um fardo, mais uma degradação de seu ser, praticamente um fardo impossível a quem já passou o dia inteiro trabalhando. A “distração”, a fruição da vida não precisa ser somente a simples (industria cultural/ cultura de massa) e não se encontra só nas brevidades de interações sociais, como as  das redes sociais. Para ser prazerosa e criar momentos de quebra de ritmo, momentos de noção de presente, temos que considerar a nossa bagagem cultural, o limite do nosso anseio e o tamanho da nossa abertura. Pois se nos deixarmos levar pela maré das explorações do sistema, que nos quer cercar a individualidade com a produção e o consumo de cultura rasa – que são como uma ração para satisfações humanas genéricas e imediatas; com as distrações midiáticas e tecnológicas; com a propaganda, que vende símbolos de identidades através de verdades que seus produtos não sustentam; com o mercado e a economia que envolve a mercantilização da vida e o trabalho que consome nossa saúde e nosso tempo, esqueceremos quem somos; que somos unidades distintas e únicas com desejos e carências e viraremos mesmo – se assim já não somos – mais de 6.973.738.433 cabeças de homens nesse imenso rebanho humano.
Pare para pensar!



Leia mais sobre cultura de massa em Adorno & Horkeheimer - Dialética do esclarecimento!