segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Perda de tempo


Quanto se perde parando para pensar? Uns dez minutos de raro desgaste intelectual, que equivalem a um segundo de stress corporal cotidiano, e isento de reclamações e satisfações a serem dadas. O pensar sobre exatamente esse assunto (exploração do trabalho) que, por estar diretamente atrelado ao pensamento marxista de exploração capital, e às suas corriqueiras interpretações corruptas, já é tomado preconceituosamente como uma perda de tempo chata e sem sentido algum, de que vale? O que fazer quando o homem passa a achar desnecessário e sem função o "pensar mais" sobre um assunto tão vívido e vivido?
As pessoas continuam sendo exploradas por sistemas que as anulam e o desgaste corporal e emocional que resulta de seus esforços laborais as fazem desejar a distração mais breve, ou melhor, as interações superficiais, a satisfação simples e a fruição distráctil como compensação a essa ruína.
Não precisamos dizer aqui que a lógica do sistema prevê todas as anulações sofridas pelo homem, pois o mesmo trabalha para sustentar suas necessidades, é compelido pelo mercado e pela propaganda a consumir “des-necessidades” e, com isso, a trabalhar desesperadamente para sustentar os seus "não-sentidos" pós-modernos (que, na maioria das vezes, chamamos de produtos), pois os sistemas só perduram por força dessa logística alienante. Cabe desde já dizer que o mercado/economia é quem coordena ideologicamente o mundo e que coisas concernentes à cultura, política e outras tantas esferas, hoje em dia, nada mais são do que simples produtos com valores estipulados pelo mercado de consumo. Hoje se pode comprar tudo!
A escravidão e a exploração evidente do trabalho se transformou em uma doutrina de ambições do mercado, que fazem do pouco tempo conseguido pelo homem, para o zelo de si, um tempo de contas, preocupações, recomendações e rememorações de problemas do trabalho, medicações paliativas e distrações alienantes, ou seja, de ruminações do esforço de ser nessa sociedade pautada no poder capital, que iludem a transformam a sensação de bem estar em "simples estar" acomodado.
O cru capitalismo assumiu, hoje em dia, microformas que se entrelaçam como o mercado, a propaganda, a moda, o consumo, o trabalho, a economia, a indústria..., mas a lógica explorativa do capitalismo destrinchado por Marx ainda é a mesma e está presente em todas as etapas dessas microformas. A exploração do trabalho, que antes era grossa, rústica e mal acabada, como uma pedra bruta de diamante, hoje é lapidada e possui muitos detalhes, por vezes opacos e de difícil compreensão, mas sempre visíveis a olhos atentos e que desejem entender. Acontece que o problema encontrado por Marx, numa época inicial de revoluções industrio-culturais, onde as coisas eram separadas mais facilmente, se diluiu e se misturou com crescimento do mercado e da economia e se transformou em uma exploração mais ideológica do que corporal. O homem explorado pelo mercado, hoje tanto quanto pelo trabalho, não acredita em tempo para si, não vê com bons olhos o ócio, ainda que (e é sempre) produtivo, portanto destina a atividade e a produtividade artístico-filosófica um patamar medíocre e vadio, assim, não entende e ignora a critica mais profunda do mundo e de si e vê elementos que criam noção de pertencimento e identidade como cultura, leitura, artes em geral ou como supérfluas ou só entende aquele tipo de satisfação rasa e cômoda sustentada pela cultura de massa, cultura feita para sossegar o homem massificado, para criar ilusão de bem estar no homem explorado, para iludir o saber do homem ignorante.
O "homem-massa" acredita que música “erudita”, leitura crítica de livros não-Best Sellers, fruição de vídeo não-block busters..., não seriam distrações, lazer, não fariam parte de um tempo de si, mas sim, seriam mais um fardo, mais uma degradação de seu ser, praticamente um fardo impossível a quem já passou o dia inteiro trabalhando. A “distração”, a fruição da vida não precisa ser somente a simples (industria cultural/ cultura de massa) e não se encontra só nas brevidades de interações sociais, como as  das redes sociais. Para ser prazerosa e criar momentos de quebra de ritmo, momentos de noção de presente, temos que considerar a nossa bagagem cultural, o limite do nosso anseio e o tamanho da nossa abertura. Pois se nos deixarmos levar pela maré das explorações do sistema, que nos quer cercar a individualidade com a produção e o consumo de cultura rasa – que são como uma ração para satisfações humanas genéricas e imediatas; com as distrações midiáticas e tecnológicas; com a propaganda, que vende símbolos de identidades através de verdades que seus produtos não sustentam; com o mercado e a economia que envolve a mercantilização da vida e o trabalho que consome nossa saúde e nosso tempo, esqueceremos quem somos; que somos unidades distintas e únicas com desejos e carências e viraremos mesmo – se assim já não somos – mais de 6.973.738.433 cabeças de homens nesse imenso rebanho humano.
Pare para pensar!



Leia mais sobre cultura de massa em Adorno & Horkeheimer - Dialética do esclarecimento!





2 comentários:

  1. parar para pensar, ao meu ver, é a melhor forma de desautomatizar as atitudes e por conseguinte o sistema a que estamos inseridos...
    li o texto.. gosto das coisas que vc escreve e é sempre um convite a reflexão, n fica chatiado se disser que "curti", né?! haha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nem um pouco! Obrigado por perder seu tempo lendo o que eu escrevi! Hehehe! Pois é, Juliana! Um texto pequeno como esse deixa muita coisa por falar, apesar de eu me esforçar por falar tudo (o que pode levar a ruína do não-entender)! E essa questão do homem automatizado está presente no texto sem estar, mas é isso aí, o texto está sendo construído e estará para sempre pelas conversas, comentários e curtidas!

      Mas o barato principal desse texto é que tenho visto muita gente inteligente preferir, na sua folga, a ração da industria cultural, pois é mais fácil e cômodo, a uma fruição mais profunda de arte ou uma diversão menos superficial, achando que esse movimento é muito cansativo para um momento tão catártico quanto a folga, tão cansativo quanto o seu próprio trabalho!

      A preguiça, causada pelo trabalho, está levando o homem a inverter valores e retardando processos, pois não há quebra no ritmo, usando as suas palavras, não há "desautomatização" do ser se quando temos tempo para nós mesmos o gastamos com a cultura baixa do mercado!

      Beijos!

      Excluir