Quanto
se perde parando para pensar? Uns
dez minutos de raro desgaste intelectual, que equivalem a um segundo de stress corporal
cotidiano, e isento de reclamações e satisfações a serem dadas. O pensar sobre exatamente
esse assunto (exploração do trabalho) que, por estar diretamente atrelado ao
pensamento marxista de exploração capital, e às suas corriqueiras interpretações corruptas,
já é tomado preconceituosamente como uma perda de tempo chata e sem sentido algum, de
que vale? O que fazer quando o homem passa a achar desnecessário e sem função o "pensar mais" sobre um assunto tão vívido e vivido?
As
pessoas continuam sendo exploradas por sistemas que as anulam e o desgaste
corporal e emocional que resulta de seus esforços laborais as fazem desejar a
distração mais breve, ou melhor, as interações superficiais, a satisfação simples e a fruição distráctil como compensação a essa ruína.
Não
precisamos dizer aqui que a lógica do sistema prevê todas as anulações sofridas
pelo homem, pois o mesmo trabalha para sustentar suas necessidades, é compelido
pelo mercado e pela propaganda a consumir “des-necessidades” e, com isso, a
trabalhar desesperadamente para sustentar os seus "não-sentidos" pós-modernos (que,
na maioria das vezes, chamamos de produtos), pois os sistemas só perduram por
força dessa logística alienante. Cabe desde já dizer que o mercado/economia é
quem coordena ideologicamente o mundo e que coisas concernentes à cultura, política
e outras tantas esferas, hoje em dia, nada mais são do que simples produtos com
valores estipulados pelo mercado de consumo. Hoje se pode comprar tudo!
O cru capitalismo assumiu, hoje em dia, microformas que se entrelaçam como o mercado, a
propaganda, a moda, o consumo, o trabalho, a economia, a indústria..., mas a lógica explorativa
do capitalismo destrinchado por Marx ainda é a mesma e está presente em todas as etapas dessas
microformas. A exploração do trabalho, que antes era grossa, rústica e mal
acabada, como uma pedra bruta de diamante, hoje é lapidada e possui muitos
detalhes, por vezes opacos e de difícil compreensão, mas sempre visíveis a
olhos atentos e que desejem entender. Acontece que o problema encontrado por Marx,
numa época inicial de revoluções industrio-culturais, onde as coisas eram separadas mais
facilmente, se diluiu e se misturou com crescimento do mercado e da economia e se transformou
em uma exploração mais ideológica do que corporal. O homem explorado pelo
mercado, hoje tanto quanto pelo trabalho, não acredita em tempo para si, não vê
com bons olhos o ócio, ainda que (e é sempre) produtivo, portanto destina a
atividade e a produtividade artístico-filosófica um patamar medíocre e vadio,
assim, não entende e ignora a critica mais profunda do mundo e de si e vê
elementos que criam noção de pertencimento e identidade como cultura, leitura,
artes em geral ou como supérfluas ou só entende aquele tipo de satisfação rasa
e cômoda sustentada pela cultura de massa, cultura feita para sossegar o homem
massificado, para criar ilusão de bem estar no homem explorado, para iludir o
saber do homem ignorante.
Leia mais sobre cultura de massa em Adorno & Horkeheimer - Dialética do esclarecimento!
parar para pensar, ao meu ver, é a melhor forma de desautomatizar as atitudes e por conseguinte o sistema a que estamos inseridos...
ResponderExcluirli o texto.. gosto das coisas que vc escreve e é sempre um convite a reflexão, n fica chatiado se disser que "curti", né?! haha
Nem um pouco! Obrigado por perder seu tempo lendo o que eu escrevi! Hehehe! Pois é, Juliana! Um texto pequeno como esse deixa muita coisa por falar, apesar de eu me esforçar por falar tudo (o que pode levar a ruína do não-entender)! E essa questão do homem automatizado está presente no texto sem estar, mas é isso aí, o texto está sendo construído e estará para sempre pelas conversas, comentários e curtidas!
ExcluirMas o barato principal desse texto é que tenho visto muita gente inteligente preferir, na sua folga, a ração da industria cultural, pois é mais fácil e cômodo, a uma fruição mais profunda de arte ou uma diversão menos superficial, achando que esse movimento é muito cansativo para um momento tão catártico quanto a folga, tão cansativo quanto o seu próprio trabalho!
A preguiça, causada pelo trabalho, está levando o homem a inverter valores e retardando processos, pois não há quebra no ritmo, usando as suas palavras, não há "desautomatização" do ser se quando temos tempo para nós mesmos o gastamos com a cultura baixa do mercado!
Beijos!