Os momentos políticos
se sobrepõem aos montes e é cada dia mais inviável uma dissociação de um
discurso comum, ignorante e alienado que seja, de uma plataforma partidária. Isso exemplifica
o quanto estamos sujeitos, enquanto despreocupados e despreparados, às normas das tendências
cristalizadas e não-dialéticas dos partidos.
A cultura
partidária no Brasil é cega, surda e muda e, com isso, atravanca o caminho da
democracia sustentável (já que este termo está na moda) e real. Os partidos, há
muito fechados em suas ideologias, não dialogam, e não têm a abertura necessária para a desconstrução e reconstrução, entre si e com o povo. Acabamos, por assim dizer, vivendo numa guerra fria
contemporânea entre os ideais de esquerda e de direita. Somos o povo entre a
justiça social e o progresso nacional.
É claro que se
propõe que o progresso traga a justiça social à reboque, assim como é claro
que, hoje em dia, a esquerda assuma uma postura social progressista, onde a
justiça social fomentaria o progresso. Há erros homéricos em ambas as posturas,
pois a esquerda, ao menos a brasileira, luta para entrar no poder e a direita
luta para se sustentar no poder. E o problema é exatamente a base desse poder.
O poder político
é sistemático, o que significa dizer que existe uma máquina, com engrenagens, botões,
alavancas, arruelas e todo um maquinário complexo que faz com que o robô da
social-democracia progressista ande. Contudo a autonomia do robô não é
discutida.
Vejamos! Por que,
hoje em dia, excetuando-se os guetos ideológicos marxistas, que jogam o jogo
político, praticamente fadados a perder, a esquerda se moldou ao sistema a
ponto de nem sequer pode ser mais, com tanta convicção, chamada de “esquerda”?
Porque o maquinário do robô faz com que ele continue andando, num caminho já
predeterminado, por força de outras engrenagens que não são político-ideológicas.
O progresso e o caminho da máquina são determinados pela economia, ou seja, o
Estado não tem autonomia, não há substancial mudança interna, ao se mudar os candidatos
eleitos, ou os partidos eleitos. Todos tocam lendo a partitura do maestro econômico.
E ainda é preciso salientar que só vai chegar ao poder aquele partido de “esquerda”
que tiver suavizado as suas ambições (por isso o carma dos marxistas), por
determinações mercadológicas e econômicas. Porque o PT não foi um governo tão
diferente assim, apesar de existir argumentos que me tentam impedir de dizer
isso, do governo PSDB? Pois a máquina anda independente do partido. Anos bons e
“gastadeiros” e anos maus de austeridades, nada está nas mãos dos
representantes, pois o ciclo do mercado financeiro nos dá alma.
Portanto a
melhor dicotomia para atualidade é, a propaganda do poder e do progresso versus
a consciência do caos e dos desequilíbrio. Nesse ponto os guetos marxistas
perdem ainda mais poder de avanço, pois a propaganda do caos não é tão atrativa
quanto à propaganda situacionista da esperança e da mudança, pois o povo é,
desde os primórdios alienado pelo trabalho, pelo consumo..., logo, vale dizer
que a propaganda de que o progresso do asfalto, da TV a cabo, da possibilidade
financeira por perto (o que é tratado como um mérito governista e deveria ser
tratado como o cumprimento da obrigação) são muito mais bem aceitas do que a
explanação do caos e das desigualdades pela maioria da população. Não quero
dizer, com isso que o erro está na cartada da esquerda, mas sim no jogo que é
jogado.
No jogo político
que ai está é preciso ser mais sonso do que sincero, pois o povo não quer temer
o que vem, mas quer acreditar. Com isso, a meu ver, propostas de mudanças no
carnaval do Rio, como a exposta pelo candidato Marcelo Freixo, devem ser
efetuadas, mas não necessariamente usadas em campanha, pois para a propaganda é
um tiro que sai pela culatra, pois se trata de uma coisa popular enraizada na
cultura e que se deixou levar cegamente às doutrinas submissas das premissas
mercadológicas. Mas é preciso frisar a “cegueira”, pois quem está lá no barracão
não sabe e não quer nem saber de mudança e de nada adianta dar depois
explicações abalizadas, pois quem está lá no barracão ganha o seu dinheiro, tem
a ilusão de mudança de vida e teme por não ter mais o seu sustento. À grosso
modo, o povo teme não poder mais ter TV, ter carro, ter dinheiro, ter.
É preciso que
fique claro que vivemos em um caos, mas é preciso que todos coloquem os óculos
de enxergar miséria, já que estamos tão automatizados e inseridos. Quando
pusermos todos esses óculos perceberemos a incapacidade da nossa democracia, do
nosso sistema político, dos nossos partidos e do nosso Estado. Perceberemos
então que o caminho é outro, que não o de escolher uma tendência e se fechar
num abismo de ilusões. E nesse meio de radicais (gueto-esquerda/esquerda-neoliberal/direita)
nascerá outra frente de radicais, utilizando-me da nomenclatura e das
definições químicas para nomear esse movimento político, os “Radicais Livres”.
Claro que eu
poderia me embasar nas definições (pois existem várias) para as palavras “radical”
e “livre”, mas apesar de ter sido uma matéria dos meus horrores na escola, acho
que as definições químicas se aproximam mais do que penso e definem as duas
palavras de uma vez.
1) “Radicais livres
são espécies que apresentam elétrons desemparelhados. Os radicais livres possuem elétrons de
valência desemparelhados, e, portanto, são altamente reativos, podendo
inclusive reagir entre si em uma dimerização para formar uma molécula com todos
os elétrons emparelhados.”.
Radical é aquele que toma pela raiz um
ideal, nesse contexto, e se apega a ele, negando a possibilidade de outro
pensamento, pois qualquer outro partiria de uma ilusão. O Radical Livre é
aquele, como o exposto na definição química acima, que possue o descontrole necessário
para se ser reativo, capaz de reagir inclusive internamente com seus conceitos a ponto de transformar em total descontrole os processos automatizados do seu ser.
Nada disso é necessariamente certo, pois é só uma vidência e uma premonição de quem nunca acreditou nessas místicas. Mas se essa possibilidade existe, e ela existe, é bom que atentamo-nos e atentemos uns aos outros, pois a liberdade partidária (não aquela do "não quero saber disso") é a chave para a discussão dos problemas da sociedade, porque a fidelidade partidária só vale para os não eleitos e ilude quem procura um "ideologia para viver", como Cazuza cantou.