quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Radicais Livres


Os momentos políticos se sobrepõem aos montes e é cada dia mais inviável uma dissociação de um discurso comum, ignorante e alienado que seja, de uma plataforma partidária. Isso exemplifica o quanto estamos sujeitos, enquanto despreocupados e despreparados, às normas das tendências cristalizadas e não-dialéticas dos partidos.
A cultura partidária no Brasil é cega, surda e muda e, com isso, atravanca o caminho da democracia sustentável (já que este termo está na moda) e real. Os partidos, há muito fechados em suas ideologias, não dialogam, e não têm a abertura necessária para a desconstrução e reconstrução, entre si e com o povo. Acabamos, por assim dizer, vivendo numa guerra fria contemporânea entre os ideais de esquerda e de direita. Somos o povo entre a justiça social e o progresso nacional.
É claro que se propõe que o progresso traga a justiça social à reboque, assim como é claro que, hoje em dia, a esquerda assuma uma postura social progressista, onde a justiça social fomentaria o progresso. Há erros homéricos em ambas as posturas, pois a esquerda, ao menos a brasileira, luta para entrar no poder e a direita luta para se sustentar no poder. E o problema é exatamente a base desse poder.
O poder político é sistemático, o que significa dizer que existe uma máquina, com engrenagens, botões, alavancas, arruelas e todo um maquinário complexo que faz com que o robô da social-democracia progressista ande. Contudo a autonomia do robô não é discutida.
Vejamos! Por que, hoje em dia, excetuando-se os guetos ideológicos marxistas, que jogam o jogo político, praticamente fadados a perder, a esquerda se moldou ao sistema a ponto de nem sequer pode ser mais, com tanta convicção, chamada de “esquerda”? Porque o maquinário do robô faz com que ele continue andando, num caminho já predeterminado, por força de outras engrenagens que não são político-ideológicas. O progresso e o caminho da máquina são determinados pela economia, ou seja, o Estado não tem autonomia, não há substancial mudança interna, ao se mudar os candidatos eleitos, ou os partidos eleitos. Todos tocam lendo a partitura do maestro econômico. E ainda é preciso salientar que só vai chegar ao poder aquele partido de “esquerda” que tiver suavizado as suas ambições (por isso o carma dos marxistas), por determinações mercadológicas e econômicas. Porque o PT não foi um governo tão diferente assim, apesar de existir argumentos que me tentam impedir de dizer isso, do governo PSDB? Pois a máquina anda independente do partido. Anos bons e “gastadeiros” e anos maus de austeridades, nada está nas mãos dos representantes, pois o ciclo do mercado financeiro nos dá alma.
Portanto a melhor dicotomia para atualidade é, a propaganda do poder e do progresso versus a consciência do caos e dos desequilíbrio. Nesse ponto os guetos marxistas perdem ainda mais poder de avanço, pois a propaganda do caos não é tão atrativa quanto à propaganda situacionista da esperança e da mudança, pois o povo é, desde os primórdios alienado pelo trabalho, pelo consumo..., logo, vale dizer que a propaganda de que o progresso do asfalto, da TV a cabo, da possibilidade financeira por perto (o que é tratado como um mérito governista e deveria ser tratado como o cumprimento da obrigação) são muito mais bem aceitas do que a explanação do caos e das desigualdades pela maioria da população. Não quero dizer, com isso que o erro está na cartada da esquerda, mas sim no jogo que é jogado.
No jogo político que ai está é preciso ser mais sonso do que sincero, pois o povo não quer temer o que vem, mas quer acreditar. Com isso, a meu ver, propostas de mudanças no carnaval do Rio, como a exposta pelo candidato Marcelo Freixo, devem ser efetuadas, mas não necessariamente usadas em campanha, pois para a propaganda é um tiro que sai pela culatra, pois se trata de uma coisa popular enraizada na cultura e que se deixou levar cegamente às doutrinas submissas das premissas mercadológicas. Mas é preciso frisar a “cegueira”, pois quem está lá no barracão não sabe e não quer nem saber de mudança e de nada adianta dar depois explicações abalizadas, pois quem está lá no barracão ganha o seu dinheiro, tem a ilusão de mudança de vida e teme por não ter mais o seu sustento. À grosso modo, o povo teme não poder mais ter TV, ter carro, ter dinheiro, ter.

É preciso que fique claro que vivemos em um caos, mas é preciso que todos coloquem os óculos de enxergar miséria, já que estamos tão automatizados e inseridos. Quando pusermos todos esses óculos perceberemos a incapacidade da nossa democracia, do nosso sistema político, dos nossos partidos e do nosso Estado. Perceberemos então que o caminho é outro, que não o de escolher uma tendência e se fechar num abismo de ilusões. E nesse meio de radicais (gueto-esquerda/esquerda-neoliberal/direita) nascerá outra frente de radicais, utilizando-me da nomenclatura e das definições químicas para nomear esse movimento político, os “Radicais Livres”.

Claro que eu poderia me embasar nas definições (pois existem várias) para as palavras “radical” e “livre”, mas apesar de ter sido uma matéria dos meus horrores na escola, acho que as definições químicas se aproximam mais do que penso e definem as duas palavras de uma vez.



      1)         Radicais livres são espécies que apresentam elétrons desemparelhados. Os radicais livres possuem elétrons de valência desemparelhados, e, portanto, são altamente reativos, podendo inclusive reagir entre si em uma dimerização para formar uma molécula com todos os elétrons emparelhados.”.

       Radical é aquele que toma pela raiz um ideal, nesse contexto, e se apega a ele, negando a possibilidade de outro pensamento, pois qualquer outro partiria de uma ilusão. O Radical Livre é aquele, como o exposto na definição química acima, que possue o descontrole necessário para se ser reativo, capaz de reagir inclusive internamente com seus conceitos a ponto de transformar em total descontrole os processos automatizados do seu ser.

 2)       “Os radicais livres podem danificar células sadias do nosso corpo, entretanto, o nosso organismo possui enzimas protetoras que reparam 99% dos danos causados pela oxidação, ou seja, nosso organismo consegue controlar o nível desses radicais produzidos através de nosso metabolismo.”.
    É preciso esclarecer que é justamente naquelas esferas mais sadias da sociedade que se encontram incubados os vírus mais potentes. Portanto, a saúde é uma ilusão, assim, os radicais livres danificam o sistema que nos ilude com a sua aparência saudável. A proteção do organismo é a repressão da manifestação popular, que á existe e permanecerá até a derrocada final com mais autoritarismos.
      Nada disso é necessariamente certo, pois é só uma vidência e uma premonição de quem nunca acreditou nessas místicas. Mas se essa possibilidade existe, e ela existe, é bom que atentamo-nos e atentemos uns aos outros, pois a liberdade partidária (não aquela do "não quero saber disso") é a chave para a discussão dos problemas da sociedade, porque a fidelidade partidária só vale para os não eleitos e ilude quem procura um "ideologia para viver", como Cazuza cantou. 
 Esse joguete com entre química e política, é, claro uma brincadeira, e uma suposição fundamentada na minha esperança de mudança, aonde a conscientização da maioria viria em primeiro lugar, onde a construção do homem político seria a primeira etapa para a reconstrução, incluindo a demolição dos pilares, da nossa democracia. E nada desses termos e definições se deve a algum pensador, filósofo, sociólogo, ou o que seja..., esses devaneios me pertencem, essas tolices me configuram. A minha esperança é a minha “liberdade”, sem que precisemos nos aprofundar nos conceitos filosóficos desses “nomes-tramóias” que criamos e não vamos saber explicar nunca.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Perda de tempo


Quanto se perde parando para pensar? Uns dez minutos de raro desgaste intelectual, que equivalem a um segundo de stress corporal cotidiano, e isento de reclamações e satisfações a serem dadas. O pensar sobre exatamente esse assunto (exploração do trabalho) que, por estar diretamente atrelado ao pensamento marxista de exploração capital, e às suas corriqueiras interpretações corruptas, já é tomado preconceituosamente como uma perda de tempo chata e sem sentido algum, de que vale? O que fazer quando o homem passa a achar desnecessário e sem função o "pensar mais" sobre um assunto tão vívido e vivido?
As pessoas continuam sendo exploradas por sistemas que as anulam e o desgaste corporal e emocional que resulta de seus esforços laborais as fazem desejar a distração mais breve, ou melhor, as interações superficiais, a satisfação simples e a fruição distráctil como compensação a essa ruína.
Não precisamos dizer aqui que a lógica do sistema prevê todas as anulações sofridas pelo homem, pois o mesmo trabalha para sustentar suas necessidades, é compelido pelo mercado e pela propaganda a consumir “des-necessidades” e, com isso, a trabalhar desesperadamente para sustentar os seus "não-sentidos" pós-modernos (que, na maioria das vezes, chamamos de produtos), pois os sistemas só perduram por força dessa logística alienante. Cabe desde já dizer que o mercado/economia é quem coordena ideologicamente o mundo e que coisas concernentes à cultura, política e outras tantas esferas, hoje em dia, nada mais são do que simples produtos com valores estipulados pelo mercado de consumo. Hoje se pode comprar tudo!
A escravidão e a exploração evidente do trabalho se transformou em uma doutrina de ambições do mercado, que fazem do pouco tempo conseguido pelo homem, para o zelo de si, um tempo de contas, preocupações, recomendações e rememorações de problemas do trabalho, medicações paliativas e distrações alienantes, ou seja, de ruminações do esforço de ser nessa sociedade pautada no poder capital, que iludem a transformam a sensação de bem estar em "simples estar" acomodado.
O cru capitalismo assumiu, hoje em dia, microformas que se entrelaçam como o mercado, a propaganda, a moda, o consumo, o trabalho, a economia, a indústria..., mas a lógica explorativa do capitalismo destrinchado por Marx ainda é a mesma e está presente em todas as etapas dessas microformas. A exploração do trabalho, que antes era grossa, rústica e mal acabada, como uma pedra bruta de diamante, hoje é lapidada e possui muitos detalhes, por vezes opacos e de difícil compreensão, mas sempre visíveis a olhos atentos e que desejem entender. Acontece que o problema encontrado por Marx, numa época inicial de revoluções industrio-culturais, onde as coisas eram separadas mais facilmente, se diluiu e se misturou com crescimento do mercado e da economia e se transformou em uma exploração mais ideológica do que corporal. O homem explorado pelo mercado, hoje tanto quanto pelo trabalho, não acredita em tempo para si, não vê com bons olhos o ócio, ainda que (e é sempre) produtivo, portanto destina a atividade e a produtividade artístico-filosófica um patamar medíocre e vadio, assim, não entende e ignora a critica mais profunda do mundo e de si e vê elementos que criam noção de pertencimento e identidade como cultura, leitura, artes em geral ou como supérfluas ou só entende aquele tipo de satisfação rasa e cômoda sustentada pela cultura de massa, cultura feita para sossegar o homem massificado, para criar ilusão de bem estar no homem explorado, para iludir o saber do homem ignorante.
O "homem-massa" acredita que música “erudita”, leitura crítica de livros não-Best Sellers, fruição de vídeo não-block busters..., não seriam distrações, lazer, não fariam parte de um tempo de si, mas sim, seriam mais um fardo, mais uma degradação de seu ser, praticamente um fardo impossível a quem já passou o dia inteiro trabalhando. A “distração”, a fruição da vida não precisa ser somente a simples (industria cultural/ cultura de massa) e não se encontra só nas brevidades de interações sociais, como as  das redes sociais. Para ser prazerosa e criar momentos de quebra de ritmo, momentos de noção de presente, temos que considerar a nossa bagagem cultural, o limite do nosso anseio e o tamanho da nossa abertura. Pois se nos deixarmos levar pela maré das explorações do sistema, que nos quer cercar a individualidade com a produção e o consumo de cultura rasa – que são como uma ração para satisfações humanas genéricas e imediatas; com as distrações midiáticas e tecnológicas; com a propaganda, que vende símbolos de identidades através de verdades que seus produtos não sustentam; com o mercado e a economia que envolve a mercantilização da vida e o trabalho que consome nossa saúde e nosso tempo, esqueceremos quem somos; que somos unidades distintas e únicas com desejos e carências e viraremos mesmo – se assim já não somos – mais de 6.973.738.433 cabeças de homens nesse imenso rebanho humano.
Pare para pensar!



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