O
filme parece ter sido feito por mão de um confeiteiro, mais ou menos como as
mãos de Agatha (personagem do filme que, na dureza de sua pobre vida, faz os
doces mais delicados). Não parece ser a toa o seu nome ser Agatha, há algo de
Agatha Christie no enredo do filme, assim como há um diálogo com tantas outras
referências da história do cinema. É fácil ser jogado para outros e longínquos
tempos quando nos deparamos com uma cena de perseguição toda feita em miniatura
acelerada e efeitos especiais rudimentares que remetem à gênesis do cinema, o
cômico em seu estado natural: não a graça escancarada, mas o sutil gracejo.
Não
vou desvendar muito da história porque acho que esse é um filme que tem que ser
visto, mas posso dizer sobre algumas relações que saltaram sobre mim ao ver
cada cena e parecia que tudo (câmera, diálogos, símbolos...) conversava entre
si, e até suspeito que brincavam.
Foi engraçado perceber que o roubo de um
quadro na história pôde me fazer pensar, ainda mais, no quadro-a-quadro do
próprio filme. Como se um quadro saltasse das relações de enquadramento
(típicas dos filmes de Wes Anderson) para o próprio enredo, me dando a sensação
de assistir um filme 3D onde os objetos ao invés de nos atacarem a vista,
saltam, ao contrário, para dentro da cena.
Wes
Anderson é, em minha opinião, o cara dos jogos de enquadramento. Ninguém dirige
melhor as câmeras – sobretudo quando parte da graça e da poética do filme é
dada pela simetria e dissimetrias dos recortes fotográficos das cenas e,
também, pelos movimentos de câmera que possibilitam a expansão dos planos e dos
quadros – do que esse diretor. Anderson consegue tratar, principalmente nesse
filme, com uma sutileza e uma delícia que só um bolinho Mendel’s poderia
trazer, de temas “batidos”, porém fortes, como guerra, imigração, perdas,
romances e amizade com a destreza e a simplicidade de um palhaço se levado a sério,
e ele me parece gostar de contar histórias simples de suas pessoas com adornos
fantásticos e burlescos.
Gosto
do trabalho de Anderson desde que assisti ao filme: Viagem a Darjeeling, mas O
Grande Hotel Budapeste me surpreendeu pelo impecável trabalho de arte estar
tão bem misturado com o melhor roteiro montado para seus filmes até o momento.
Créditos, então, além dos tantos dados a Wes Anderson, aos seus companheiros de
roteiro Hugo Guinnesse Stefan Zweig.