Enfrentar a besta. Alvejá-la e
feri-la mortalmente. Com as setas que ainda se fazem de mão ágil e pensamento certeiro.
Com pontaria eximia, trabalhada no olhar de enxergar queda de folha seca, no olhar
de contar cada veloz braçada de pássaro. O mesmo olhar que já vê, há bastante tempo, avançarem
os bois sobre o pasto. Olham, mas precisam ver. Ver se põe maior que olhar. Ver se
impõe! E calcula! E não enxerga. A besta, então, calcula e não enxerga a farpa, a falha, o
ferro, a pecha..., de calcular, de responder, de autorizar, de aceitar... Ordens! E a besta não avança mais para comer, a besta
avança para con-ter no padrão, na norma - todas as flechas; mão a mão - todas as miras. Como
ter em uma moldura, em uma clássica moldura adornada em ouro, uma pintura pacífica,
uma versão amistosa de toda a história do encontro: besta e flecha. Embate vivo do guerreiro, esse guerreiro,
da guerra todos os dias. Bom e mau ao mesmo tempo. Guerreiro, flecheiro, mortal,
capaz de qualquer movimento. Guardião de um mundo particular, se despetalando, que
o Mundo, quando muito, cisma em romantizar. Mas a besta flechada só contém
flecha achando, coitada, conter o desfecho. A besta pranteia a própria queda,
encaixada em sua forma arcaica e redundante de fera. Vejo-a, ainda a carregar um brasão de colônia,
um brasão de império, um santo, um terço, um panfleto e as armas do impropério sem reconhecê-las o mistério.
Besta-progresso, sangrando por dentro do gesso do mérito. Que as flechas mais do que ferir te toquem!
Besta-progresso, sangrando por dentro do gesso do mérito. Que as flechas mais do que ferir te toquem!